Os desafios de um trabalhador rural

Publicado por Gildazio em 18 janeiro 2016

     Boas histórias precisam ser recontadas. Nese mês de janeiro, vamos recuperar algumas das mais interessantes matérias e entrevistas publicadas em 2015 no jornal da CONTAG, para relembrar temas sobre os quais precisamos continuar lutando sempre. Esta entrevista foi publicada em nossa edição nº127, de outubro de 2015. Se você ainda não leu, confira aqui a entrevista com o trabalhador rural Francisco José Santos Oliveira, do Piauí. Ele saiu de uma situação de trabalhao análogo ao escravo e lutou para conseguir terra para formar um assentamento para 20 famílias.

     Um estudante de Letras quase formado, preparando seu Trabalho de Conclusão de Curso. Casado, pai de duas meninas, dono de uma casa onde produz arroz, milho e mandioca, presidente da Associação do Assentamento Nova Conquista, a 80 km de Teresina, próximo ao município de Monsenhor Gil, no Piauí. Esse é Francisco José Santos Oliveira, um rapaz de 32 anos, tranquilo, mas de fala firme, que tem atrás de si uma trajetória de muita peleja. “Mas ainda temos muito pelo que lutar daqui para frente”, diz ele.

Jornal da CONTAG – Você passou por exploração do seu trabalho e não teve seus direitos trabalhistas respeitados. Como foi isso?

Francisco José – Em 2007, eu tinha 24 anos e, como a maioria dos jovens da região de Monsenhor Gil só tinha como opção trabalhar na terra de grandes proprietários. As oportunidades de crescimento praticamente não existiam. Fui forçado a migrar em busca de condições melhores. Fui para Miguelópolis, no interior de São Paulo, para trabalhar com o corte de cana. Foram meses difíceis. Acordava às 4h da manhã, viajava por 2h até a fazenda e começava a lida às 6h, sem descanso, até que se completasse a meta de ceifar três toneladas de cana por dia. O trabalho exaustivo devia ser feito por seis dias na semana e ganhava apenas R$ 500 por mês. Mal dava para sobreviver. A empresa nunca assinou a carteira de trabalho e dos colegas que foram comigo. Quando entendemos que nunca receberíamos nossos direitos voltamos para o Piauí.


Jornal da CONTAG – No Piauí vocês se organizaram e formaram um assentamento. Pode contar para nós essa história?

Francisco José – A Comissão Pastoral da Terra (CPT) teve grande influência nos passos seguintes. Eles mostraram que era possível lutar por terras e pela formação de um assentamento. Havia um grupo de trabalhadores que haviam sido resgatados pelas autoridades de situações de trabalho escravo que estava conversando sobre a demanda por terras junto ao governo, mas ainda de maneira desorganizada. Criamos a Associação do Assentamento Nova Conquista, fui presidente dessa associação e lutamos junto ao Incra para a conquista de um grande pedaço de terra próximo ao município de Monsenhor Gil. O assentamento Nova Conquista tem água encanada, energia elétrica e as 39 famílias conseguiram também a construção de moradias. Cada família é responsável pela própria produção e as principais plantações são de milho, mandioca, arroz, feijão, melancia.


Jornal da CONTAG – Quais os desafios que vocês ainda têm?

Francisco José – Precisamos conseguir tratores e financiamento de projetos para melhorar e aumentar a produção. O que plantamos dá para nossa sobrevivência, mas queremos conseguir vender para aumentar nossa renda. Nossos filhos estão crescendo, precisam estudar, têm outras necessidades e queremos que eles possam ficar em nossas terras, trabalhar e viver aqui. Se a gente continuar como está, daqui a pouco eles terão que migrar também. Já apresentamos vários projetos para o governo e para ONGs que trabalham como desenvolvimento do campo. Nenhum foi aprovado ainda, mas vamos continuar tentando.

 FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG – Lívia Barreto

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