Necah Lima – Proeminente Escritora de Buriti dos Lopes.
Publicado por Erasmo Marcio Falcão em 21 janeiro 2016
Como grande é a vivacidade desta jovem escritora… Quão maduras são suas palavras… ao vê-la falar tem-se a clara noção de nunca perder o prumo, não obstante, mulher de ações firmes e decidida quanto às pretensões literárias… Necah Lima… já nos surge com pseudônimo de escritora daquelas que imaginamos conhecer desde criança… (como Ruth Rocha, escritora que permeia o imaginário infanto-juvenil a tantos anos que se torna quase impossível não lembrar deste nome).
Cleane da Silva de Lima é seu nome de batistério sobremodo forte para uma jovem que aos vinte e seis anos detém vinte livros (ainda não publicados), e uma série de projetos prontos a cerca de diferente gêneros para publicação. Aos onzes escreve seu primeiro conto e hoje, leitora madura de escritores locais, Mario Quintana, Cecília Meireles e Baudelaire; permeia por todos os gêneros literários contendo trabalhos publicados em livro pela Universidade Estadual do Piauí. É a escritora, personificaremos a poetiza, mais efetiva e proeminente da cidade de Buriti dos Lopes projetando assim uma carreira sólida de relevância incalculável à posteridade.
Em entrevista cedida no dia 19 de Janeiro de 2016, fala de forma determinada e eloquente sobre sua produção e carreira literária, suas influências e pretensões, o começo de uma vida exigida e a dedicação ao estudo e trabalho… é fácil fazer relação com gigantescas escritoras tipo Cecília Meireles a esta candidata a cadeira de academia de letras pelo simples fato de que, em ambas, sentimos a mesma gana e o incontrolável desejo de escrever. Suas poesias precipitam deliciosas fruições estéticas onde a leitura é um deleite aos temperes mais escondidos do prazer de ler.
O ritmo de suas composições é envolvente, suas pausas entrelaçam-se na entrelinha de uma palavra a outra quase sem tempo para respirar de modo que cada frase complementa o ritmo do verso, onde este alicerça a construção das rimas, como enfatiza, todas são versos livres.
Suas rimas não se encontram em convenções fonéticas, elas se enlaçam em complexos conceitos e conclusões, não são rimas de palavras que terminam iguais, são rimas de palavras que se completam pelo sentido, pelo sentimento, são rimas puras, límpidas, rimas que as ideias tomam como meio de fugir da abstração e ganhar os paradigmas da realidade de quem as lê. Há sobremaneira vasão à subjetividade… um eu-poético suplicante às vezes simples, às vezes complexo que, emocionalmente, sequestra nossa compreensão. Isto toma tanto nossa atenção que se torna fácil a leitura posto que as ideias completam umas às outras, onde o mote jamais foge ao âmago do poema, que a terra lhe é fonte de inspiração, os anseios da alma também, onde encontramos a inquietude do ser feminino e a valorização dos sentimentos frente aos desalentos. Despida de bandeiras tendencialistas, exceto o explícito amor ao seu Brejo, chega a um grau de abstração filosófico em determinados momentos fazendo da compreensão um mero tripulante da imaginação em que ler já não é mais somente o necessário, é preciso experienciar sensações alienadas de si para dentro do poema para que se possa pretender uma compreensão real da leitura. Nestes instantes nota-se a influência psicológica de Cecília Meireles e do simbolismo indecifrável do francês Charles Baudelaire.
Resumo Bibliográfico:
Cleane da Silva de Lima é uma buritiense de vinte e seis anos, que escreve desde os onze, faz parte da Academia Buritiense de Artes, Ciências e Cultura (ABACC), estudante do curso de Letras-Português, filha de família humilde e batalhadora. A paixão pela escrita se deu através de histórias infantis contadas por suas professoras da primeira série (segundo ano). Aprendeu a ler e escrever praticamente sozinha, sempre incentivada pelos pais. Escreveu seu primeiro conto aos onze anos, intitulado “A pequena Bruxa”, a partir desse momento não parou mais suas narrativas, uma paixão infinita que iniciou com os clássicos infantis de literatura e com o ingresso à universidade proporcionou mais descobertas e novas leituras que aguçaram a curiosidade e o prazer em criar ficções, desde então não parou mais.
Quando, como e porquê você iniciou escrever poesia?
Mexer com poesia foi uma experiência maravilhosa, eu tinha dezesseis anos quando iniciei a escrever poesia, conheci o gênero através de dois professores de português que tive, ambos me incentivaram bastante, através dos dois, apreciei o poeta Mario Quintana, um dos meus poetas favoritos, fiquei fascinada por ele, ponto inicial que contribuiu e me permitiu a escrever, também porque tudo ao meu redor virava poesia, então o porquê da poesia vinha tanto do meu interior como exterior desde a um sentimento íntimo a um fato quotidiano, aprendi que poema a gente não constrói a gente sente e expande, desde então poesia veio meio que espontâneo para a minha vida.
Como você auto classifica suas produções?
Na verdade nunca parei para classificar minhas produções, mas acho que se enquadram em Poesia lírica, saudosista e algumas satíricas.
Sobre o Eu poético… Qual pessoa você mais personifica?
A primeira pessoa, o eu, que é cada um de nós, o nosso íntimo que luta conosco mesmo, somos nós protagonistas de nossas escolhas e de nossos pensamentos, e em meio as andanças fogem de nós mesmos, demonstrando nossa subjetividade sem que percebamos, somos cada um de nós, individualizados, o nosso eu, um ser triste, bravo, eloquente, patriota, ríspido, feminino, marginalizado…
Sobre a estrutura física das poesias… que tipo de poema você mais gosta de criar? Como utiliza as rimas? Se utiliza… claro.
Tenho muita afinidade com poemas livres, sem regras, todas são versos livres.
Existe alguma forma fixa de poema que você gosta de ler? Por quê?
Gosto de sonetos, mesmo não tendo muita afinidade em criar, por que é algo grandioso e regrado, uma ambição que mesmo eu lendo nunca consiga inventar, mas gosto de ler, pois me inspira e me aguça a mente.
Sobre a influência… quais poetas você entende que lhe servem de influência, inspiração, modelo… etc?
Gosto muito de Mario Quintana, Cecília Meireles, Baudelaire…
Existe alguma classe ou período literário que você mais gosta… exemplos por favor…
Sim. Gosto do Realismo/ Naturalismo e do Modernismo.
Sobre seus temas… qual a temática latente nas suas poesias… ou o tema que mais lhe deixa a vontade ao escrever?
Os temas são os mais variados, não consigo esboçar qual tema me deixa à vontade, ou qual é o mais latente, apenas tento esboçar aquilo que no momento meu íntimo está me pedindo para sair e ser escrito, não consigo me prender a temas, escrevo o que no momento o meu eu poético não suporta ficar sufocado e me obriga não criá-lo mas o fazer nascer desde um fator quotidiano ao psicológico que percebo em mim, naquilo que desconheço ou em minha volta.
Há algum escritor local que você gosta? Em nível de Estado e município?
Sim, gosto e tenho uma admiração pelo poeta Neném Calixto e por Berilo Neves, escritor parnaibano de Ficção Científica do século XX.
Sobre suas pretensões como escritora…Quantos livros você já tem prontos para publicação?
Vinte livros.
Quando pretende publicar?
Em breve, há dois livros que tenho a pretensão de publicar: um que tenho em parceria com uma de minhas irmãs, chamado Coralina Júlia e outro O planeta dos narizes empinados para cima, escrito com todos de minha família.
Você assume alguma bandeira nas suas poesias… se sim, faça um comentário sobre… tipo: Alguns poetas assumem uma postura politizada ou filosófica ou humanista ou ufanista…
Na verdade nunca parei para analisar meus escritos sobre isso, mas ficaria grata se você analisasse-os e desse a sua opinião sobre alguns deles.
Em relação a outros gêneros, também gosto de escrever crônicas, romances, teatro,contos, fábulas, literatura infanto-juvenil…
Tenho projetos de escrever para alegrar, satisfazer ao meu leitor, pensando no que mais apraza e no que se faz diferente, sempre tentando surpreendê-lo e deixando-o mais curioso.
Escrevo aquilo que está inteiramente no meu dia a dia, em minhas leituras, os romances tem influência de Jane Austen, escritora do século XX. Tenho estudado bastante para melhorar minha escrita como também na organização das ficções através de leituras literárias como de teor científico. Este ano pretendo escrever mais em relação ao gênero conto e romance, pois já tenho livros em andamento.
ALGUNS POEMAS:
Outrora
Aqui me enviaram as almas destinadas ao abate
Aqui me puseram contra a dádiva do luar
Aqui entre deuses e perseguidos
Entre fortes e fracos
Puseram a insensatez de uma guerra
Aqui muitos irmãos se foram e deixaram marcas de felicidade
Entre o ar da aurora e a chuva das lágrimas
Das mulheres deixadas
Num adeus insatisfeito
Aqui jazem maculados sofrimentos de uma vida longa
Por motivos de ganância
…
Há espectro, nada mais!
x – x – x- x – x – x – x
Perplexidade
Ô timbre de penumbra aquecido pela dor
Acometido pelo medo …
Ó graça desanimada deslumbrada
Ó sincope de estrelados organismos de vigília
Saltitantes e mirabolantes deslumbrante de olho
Eu aqui no olho de penetração enraizada de asco
Olho feroz, de temor!
Será que há bondade, será neutralidade de amor deles?
Será que da idolatrada sensação a recepção deles
Não surgirá em mim?
Se não, que seja um sonho ruim, se sim, que não sinta
Se for para o bem que seja eterno, não!
O que há em mim, não há lógica, não sei o que sou,
Penso que sei, o que há em mim, o que penso?!
Já que em mim o medo de um ferido cálice pernoita em minha cama
Consome devastado o suspiro de brilho incansável
De contradição e aperreio
De solidão, o tempo maldito, o bem, bendito tempo
Corrompido pelo horror,
Pela insensatez
Refugiado pela perplexidade
Pela obscuridade de inefável amor
Inenarrável sentido, mistura de amor
Mistura de culpa, dor
Mais amor.
Mais bondade, por favor!
x – x – x- x – x – x – x
Minha avó
O tesouro de meu avô dizia ela (num tom curioso e ansioso) entre
os floridos sorrisos rasgados em sua afável boca,
Os vocábulos enriquecidos pela pouca leitura,
E os mais diversificados conhecimentos nutridos pelo tempo.
Sua pele tão amada pelo momento,
suas belas histórias, essa minha avó!
Que os suspirosos dias não a trazem
Que sua roupa larga e longa de conservadorismo não a trazem
Que a saudade consumidora infelizmente
A deixa em minhas lembranças,
Ah minha avó!
E suas historietas de terror, de afabilidade, de afeição, suas gargalhadas altas
Sua movimentação, seu olhar
Seu canto esparramado no ar, sua voz melindrosa,
Sua altiva raiz de conhecimento, ela não volta
Eu não ouço a voz inspiradora dela.
E não posso dar fim a estas palavras que teimam
Em não querer fim vovó!
x – x – x- x – x – x – x
Bem-estar
E eu vou voar até a infinidade dos ventos
Causadores dos melhores e piores movimentos
Sair por aí cantarolando a face do meu bem estar
Promovendo com felicitações a harmonia
Que em dias atuais meu corpo padece e meu espírito se arruína
Quem sabe um dia voltarei a exprimir as fervorosas gargalhadas
E das noites o prazer frondoso, quem sabe lançar o saber da fêmea
Quem sabe guardar a fêmea, quem sabe por pudor caminhar na ideologia social ou não,
o bom, para o bem, não, para o mal, não!
Eu quero voar, cantarolar, chorar, rasgar o absurdo deles,
correr feito louca e amar, amar a vida, amar o que sou,
se descobrir, a louca de variados anseios, ou a minha independência!
x – x – x- x – x – x – x
Delírios
Ópio enfurecido da doença humana, rasgada em mim no desespero ruidoso
Cólera de náuseas do breu da noite
Como sopro fúnebre cambaleante
De olhos lubrificados
Corpo morno, coração palpitante, dentes negros assassinos,
Olhos mortíferos com dor, com devaneio,
Aurora dissipada pela penumbra dos rubros olhares
Singelos, sóbrios, sombrios, sem forças, sem desejo, com almejo?
Cárnea de escárnio do cuspe malicioso, de corpos que se estendem na calçada,
o vulto roça a ferida do horror,
a boca dilacerada do medo a corroer os lábios sanguinários de si mesmo, esmo,
o não, a mão,. Ele, Eu? Tu que foges não compreendes a dor, o prazer, a morte, amor, a morte!
Éter daquilo que não percebe na dormência do desejo,
Ajuda, ajuda, a.. me!
x – x – x- x – x – x – x
Sol rubro
Vistes o sol rubro de indolência, terra minha de índios a andar,
Ruas novas, o de antes de não mais existir, a terra, a rua, o antes esquecido.
Colores em teus frondosos e aspira olhos, fogo que arde de tuas mãos incansáveis.
Ruelas das mãos daqueles que te massacraram, minha terra, minha mãe.
Que bacana ter uma escritora deste porte filha da cidade de buriti dos lopes muito bom você deixa seus conterrâneos orgulhosos
Esta é uma menina de grande potencial. Quero estar presente na noite de autografo. Meus parabéns e muito sucesso.
Parabenizo o Erasmo pela entrevista. Que por sinal nos transmite a segurança das respostas de nossa jovem escritora.
parabenizo esta pessoa simples que tem amor e prazer na leitura e na escrita talento inconfundível. parabens Neca, parabens Buriti.