Exemplos de camadas de sedimentos areníticos horizontais e pequenos alvéolos.
Exemplos de camadas de sedimentos areníticos horizontais.
As superfícies das rochas, de cor predominante cinzento-esbranquiçada, em certos lugares sugerirem canais fluviais, são chamadas de arenitos de planícies estuaria e arenitos de canais fluviais. Estes arenitos são expostos a ação direta do sol e em sua superfície mais externa encontramos contrações de erosão por queda de gotas das chuvas. Nos períodos de seca, há perda de água e formam gretas (aberturas estreitas) e compridas de pequena profundidade, por quase toda parte encontramos também a presença de liquens que desempenham um papel decisivo na formação da erosão dos arenitos por representar de certa forma uma proteção contra os agentes erosivos. Nos topos das montanhas formam-se pequenos pináculos arredondados (pequenos pontos elevados) formados pelas gotas de chuva onde também se desenvolvem liquens.
Monumento Obelisco. Afloramento rochoso arenítico de coloração cinzento-esbranquiçada com pigmentação amarelada produzida por liquens.
O tipo de erosão que formou o Complexo Arqueológico Porão do Japão é chamado de Erosão Alveolar, também conhecida por erosão salina, a perda do sal no arenito exerce função crucial. Esta carência do sal produz pequenas perfurações nas rochas, chamados de Alvéolos, os alvéolos aumentam de tamanho e em regiões porosas das rochas transformam-se em túneis, chamados de Túneis Anastomosados, formam- se através da ligação de dois vasos ou dutos oriundos de pontos diferentes, ligando-se de um lado externo da rocha ao outro pelo centro. Estes canais labirínticos se formam por dissolução parcial dos grãos de quartzo e das argilas. É a Erosão Alveolar e os Túneis Anastomosados responsáveis pela formação das pequenas cavernas, grutas e arcos naturais encontrados no complexo geológico.
Exemplo de Erosão Alveolar. As fendas horizontais são formadas pelos alvéolos.
Exemplos de Túneis Anastomosados. Os pequenos furos dispostos em simetria próximos à base das rochas são túneis anastomosados. Entra de uma profunda caverna.
Existem próximo a uma nascente d’água alguns afloramentos rochosos, em uma dessas pedras há um pré-histórico pilão escavado na rocha arenítica, deve ter sido escavado através da incisão de ferramentas feitas de rochas mais rígidas, provavelmente rochas com alto teor de ferro. São instrumentos líticos dos ancestrais, pode-se deduzir com isso que talvez possamos encontrar algum destes instrumentos nas redondezas. Estas pedras têm tons escurecidos por conta de estarem sob uma densa vegetação, próximo de água, recebem ação de agentes orgânicos como liquens e fungos. Este antigo pilão provavelmente tenha sido utilizado para produzir os pigmentos e as tintas das pinturas rupestres, beberagens utilizadas em rituais religiosos e processamento de comida. É a prova mais evidente das ocupações humanas primitivas do lugar. A localização deste pilão está na base da cadeia de montanhas onde se encontram algumas pinturas rupestres.
Pilão de Pedra escavado na rocha por habitantes paleolíticos.
As inscrições rupestres apresentam pinturas de cores avermelhada, possivelmente produzidas por fragmentos pulverizados de laterita ou hematita onde há suficientes concentrações de óxidos de ferro. A base líquida que foi aplicada este pó provavelmente tenha sido água, mas também possam ter sido aglutinantes como óleos viscosos extraídos de ovos, sangue, vegetais ou outros minerais. Tem como suporte o interior de alguns alvéolos, as paredes das grutas, estas paredes receberam bem as pinturas por não estarem mais sob a ação da erosão alveolar, protegidas da chuva, do sol e do vento, dispostas em forma plana enrijecidas por um tipo de cimentação. Em Sete Cidades há cimentação silicificada pouco profunda, em outro sítio de arte rupestre da mesma bacia sedimentar, porém, mais próximo, o Arco do Covão na cidade de Caxingó, é constituído por um arenito muito friável, cimentado com uma matriz feldspática. Não podemos dizer que é a mesma cimentação, isto é, enrijecimento da parede, porque é necessária uma pesquisa química da rocha. As grutas e cavernas têm na parte mais externa, uma cobertura grossa de galhos e folhas secas no solo e em quase todas as paredes há uma cobertura orgânica de galerias de cupins, ninhos de vespas e uma densa cortina de raízes de plantas grimpantes.
Antropomorfo. Imagem figurativa que sugere um ser humano.
Raízes de plantas grimpantes. Podemos ver também arco que transpassam a rocha formados pela erosão alveolar gerando uma pequena caverna.
Apresenta diversos problemas de conservação de arte rupestre de modo que algumas pinturas estão sendo deterioradas por estas coberturas orgânicas e necessitam de uma urgente ação de intervenção de conservação. As imagens que ainda estão à mostra representam símbolos geométricos de grafismos puros, mãos com espirais e uma imagem antropomórfica, uma leitura da iconografia primitiva paleolítica no nordeste brasileiro, são vestígios de povos pré-históricos paleolíticos que, provavelmente, habitaram temporariamente o local e deixaram registrados em grafismos geométricos e imagens figurativas a marca de sua presença.
Exemplo de degradação de arte rupestre por agentes orgânicos: galerias de cupins, raízes de plantas e ninhos de insetos, vespas e marimbondos.
Exemplo de degradação de arte rupestre por agentes orgânicos: galerias de cupins, raízes de plantas e ninhos de insetos, vespas e marimbondos. Podemos observar imagem antropomórfica e símbolos geométricos de grafismos puros.
Os povos que habitaram a região do Porão do Japão se enquadram perfeitamente no conjunto de ocupação pré-histórica, novamente, por analogia aos povos que habitavam a região de Sete Cidades. Eram povos de características peregrinos, a região apresenta traços de local habitado por povos periódicos, isto é, tribos nômades, como olhos d’água e riachos não perenes, animais de caça e árvores frutíferas de temporadas distintas.
As cidades de Piracuruca, São José do Divino, Caraúbas do Piauí, Cocal, Caxingó, Bom Princípio e Buriti dos Lopes possuem um número considerável de áreas arqueológicas em suas adjacências, o que sugere uma possível concentração maciça de populações primitivas em épocas remotas, ainda que haja possibilidade dessas ocupações terem sido sucessivas e temporárias. Essas observações foram baseadas na quantidade de registros rupestres, grutas, furnas e abrigos sob rochas encontrados nas cercanias dessas cidades, alavancando o tão propalado potencial arqueológico da região.
GALERIA DE FOTOS:
Arco Alveolar. No centro da rocha encontra-se um pequeno arco produzido pela erosão alveolar.
Pintura Rupestre. Círculos circuncêntricos desenhados na palma de uma mão.
Detalhe de um cânion entre as montanhas rochosas do Porão do Japão.
Exemplo de degradação de arte rupestre por agentes orgânicos: galerias de cupins, raízes de plantas e ninhos de insetos, vespas e marimbondos. Podemos observar imagens de mão com círculos circuncêntricos.
Exemplo de Arco Alveolar. Entrada de uma gruta.
Exemplo de passagem entre rochas produzido pela erosão alveolar.
Porão do Japão. Vista da cadeia de montanhas que forma o complexo arqueológico.
Magnífica matéria, brother! Quanta riqueza nossa região nos oferece.
SIMPLESMENTE MAGNÍFICA A REPORTAGEM.O NOSSO ARQUEÓLOGO ERASMO FALCÃO(JOSÉ GUIDON)NOS MOSTRA UMA COISA FABULOSA EM NOSSO MUNICÍPIO, QUE SÃO AS PINTURAS RUPESTRES EXISTENTES POR AQUI.
Quero ir a este lugar…
Que lindo lugar, me recordo muito de Sete Cidades, bastante semelhante. Moro por em Buriti e nunca tinha ouvido falar a respeito desse local. Com certeza, deve deixar de ser privado, e passar a ser de todos!
Muito bacana
Lindo lugar e belissima materia…