Vivemos uma crise sem precedentes na história deste país, uma crise de representação principalmente política. Escolhemos candidatos por exclusão, afastamos das rodas de conversas assuntos da política, enfraquecemos as ideologias, falimos as instituições e damos crédito a políticos oportunistas de carreira. Frente a isso, criou-se hoje a ideia da participação popular como uma massa de ignorantes, que não sabem votar, que não têm interesse nacional, que não quer enxergar a profunda crise que afeta o país.
Escolhemos há mais de um século os nossos representantes através do voto, salvo nos períodos de ditadura militar, e a cada governo que se inicia temos a esperança de que sejam diferentes, que se priorizem os interesses da nação a cima dos interesses partidários e individuais. Enquanto não se fizer uma reforma política que impeça caciques de partidos, condenados por crime eleitoral, recursos e mais recursos para sustentar mandatos, fraudes aos cofres públicos entre outros e impunidade, continuaremos na esperança de um país mais justo e igualitário.
A democracia nunca viveu períodos de calmaria e agora não é diferente. Nas últimas eleições passadas para presidente, a pequena maioria da presidente Dilma sobre o tucano Aécio Neves confirmou de um lado que o povo achou melhor dar continuidade a um governo que já vinha desgastado de 12 anos ( 8 do presidente Lula e 4 de Dilma) do que apostar na velha fórmula de o PSDB governar. O resultado da maioria pelo voto revoltou setores da sociedade e da imprensa que creditaram ser o Nordeste pobre economicamente e mais assistido por programas sociais o responsável por decidir a eleição. Triste engano, se assim o fosse um pouco mais de um milhão de votos facilmente seria compensado por outras regiões do país, o que não aconteceu. Culpar mais uma vez o Nordeste por mais um problema no país é muito cômodo. Faltou foi opção por um político ou partido que representasse algo novo para o país.
A população se vê com medo de falar da política como um interesse da sociedade como sendo a coisa pública. Nas escolas, nas rodas de conversa entre amigos e nas redes sociais é muito comum a discussão, por exemplo, daquilo que acontece no atual governo, mas a partir do julgamento prévio da mídia principalmente da TV GLOGO e da editora ABRIL. A falta de um conhecimento histórico e crítico sobre o sistema político brasileiro, sobre as lutas pela liberdade de expressão e falta de visão sobre os rumos da política acabam por criar uma situação de um governo acuado e que a qualquer momento a presidente convocará a imprensa para anunciar a renúncia para não esperar ser cassada e enfim o país retomar a crescimento e fazer surgir alguém capaz de mudar o cenário político. Mais uma vez triste engano.
Para Winston Churchill – “A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas.” Como se vê, devemos experimentar a democracia sempre, renová-la sempre para que as instituições sejam atuantes e representativas. O fortalecimento dos partidos é a melhor alternativa viável para o nosso modelo político, o número de representações deveria diminuir, a formação dos candidatos deveria ser obrigatória com ao menos ensino médio e financiamento de campanha ser público apenas.
Tudo que está acontecendo no Brasil no atual governo não é novidade para nenhum político profissional, pode até ser para alguns jovens que ainda não se aprofundaram em história ou que são naturalmente criados em tríplex que transformam suas bandejas de inox em panelas e seus smartphones de última geração em vaga-lumes. Estas manifestações contra Dilma e Lula e o governo têm um caráter ainda panfletário, não representa a luta pela moralidade com o interesse nacional. Hoje a melhor alternativa é deixar que a Dilma termine seu mandato com ou sem Lula como Ministro, com ou sem a debandada covarde do PMDB, com ou sem os grampos indevidos contra a chefe da nação, com ou sem a imprensa parcial a serviço de uma suposta informação.
Não podemos justificar e dizer que é correto utilizar empresas públicas para desviar dinheiro para campanhas políticas como também não podemos defender que as pessoas envolvidas não sejam devidamente punidas. A lei é para todos, mas a forma de se chegar aos culpados também é para todos, sem distinção. No entanto, quantos políticos não terminam seus mandatos com protelações com a inercia da justiça e ao final de tudo não devolvem nada aos cofres públicos? Praticamente todos. O que fazer então para contornar a crise da nossa representação. Indignar-se apenas, fazer bonecos, xingar pelas redes sociais, acampar frente ao Planalto. Isso é muito pequeno.
O que podemos então indicar para melhorar essa situação? Devemos começar pelo nosso próprio nariz, pela nossa casa. Pergunte-se como os seus vizinhos o veem, qual a sua participação na comunidade, você reclama por que a lâmpada está queimada, por que o carro do lixo não veio, por que a máquina de exames está com problemas, por que alguém reservou vaga para o dentista na sua frente. Você lembra se o seu vereador trabalha, cumpre horário no local de trabalho dele. Na escola onde seus parentes estudam você costuma frequentar, explica por que seu filho faltou à aula, cobra dele horário de estudos. Ser um cidadão consciente implica saber se posicionar diante destas e outras situações, para que possa então pensar em criticar partidos, políticos, instituições. É preciso que as pessoas reflitam sobre sua participação na sociedade.