O Professor Pós-Doutor em Matemática, Arnaldo Brito, concede entrevista exclusiva para o Portal Buritiense. Confira:

01-    Portal Buritiense – Professor Dr. Arnaldo Brito, hoje você é Diretor Geral do Núcleo de Ensino à Distância – NEAD da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Qual a importância desse cargo dentro do contexto educacional do Estado do Piauí?

     O NEAD é um órgão fundamental na estrutura da Universidade Estadual. Hoje respondemos na Direção por: 08 Cursos de Graduação, 14 de Pós-Graduação e temos aproximadamente 9 mil alunos matriculados. A direção, em parceria com todos os colaboradores do NEAD/UAB, tem a responsabilidade de levar educação de qualidade a todos os territórios do nosso Estado. Ser Diretor Geral do NEAD é sem dúvida um grande desafio, principalmente na realidade que vivemos hoje. Por outro lado, também é a oportunidade de contribuir para o avanço educacional e, principalmente, social do nosso Estado.

02- PB- De onde surgiu seu interesse pela Matemática e quando você percebeu que tinha habilidade diferenciada com os números?

      O interesse foi por acaso.

     Quando eu estudava no 2º ano (antigo 2º grau), no Colégio Dez em Parnaíba, ocorreu uma situação que foi de certa forma marcante. Numa certa prova, matemática, tinha uma questão que tentei de todas as formas resolve-la e nada. Pois bem, na semana seguinte o Professor resolveu a tal questão de duas formas bem simples e criativa.

     Naquele momento eu fiquei tão impressionado com a solução do professor, que pensei vou aprender isso também, mas para tal eu deveria estudar bem mais.

     Comecei a estudar com mais vontade pra não passar por aquela situação novamente, e aos poucos fui observando que eu tinha uma certa afinidade com as disciplinas da área das exatas, em particular com a Matemática.

     Já com relação a habilidade diferenciada com os números não sei se tenho, eu nunca fui um aluno genial, mas sempre fui determinado e muito trabalhador. Tenho certeza que com muito trabalho e dedicação podemos superar grandes barreiras e sempre foi assim, muitas noites de estudos, dedicação, mas sempre fazendo o que gosto com muito prazer.

03- PB- Durante a nossa vida escolar algumas pessoas, ainda que indiretamente, contribuem ou nos incentivam em nossa formação. Você se espelhou, foi motivado ou estimulado por alguém para trilhar nos caminhos da Matemática ou esse interesse foi puramente pessoal?

     “Dentro” da Matemática eu tive a sorte de conhecer pessoas especiais, como por exemplo: Paulo Airton (Colégio Dez), Vicente de Paula, João Xavier, Jurandir Oliveira e Paulo Sergio (UFPI), Aldir Brasil (UFC), Prof. Nelson Maculan e Paulo Roberto (UFRJ). Mas, sem dúvida nenhuma, as principais pessoas que são responsáveis por essa jornada (sair de Buriti e chegar a um Pós-Doutorado), estão fora da Matemática, estão na FAMÍLIA. Hoje minha maior inspiração é o meu filho (Marcelo).

04- PB- Como foi sua infância, onde estudou, como convivia com seus pais e seus irmãos durante os primeiros anos de estudo em Buriti dos Lopes?

     Na minha infância eu sempre trabalhei e estudei.

    Trabalhava na padaria da família, fazia entrega por todo o Buriti, Barra do Longá, Coroa … Era um período difícil, mas por outro lado muito tranquilo. Os jovens, da época, não tinham tanto problemas com drogas, … o nosso maior vício era jogar bola, era brincar com os amigos na porta de casa na rua …

     Na vida acadêmica tive o prazer de ser aluno de D. Chica Belina no Jardim, fiz o antigo primário no Leônidas Melo (fundamental menor), ginásio na CNEC (fundamental maior) e o 2º grau em Parnaíba na Unidade Escolar Estadual Lima Rebelo e Colégio Dez (Ensino Médio).

05- PB- Muitas crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental tem a Matemática como a disciplina de maior habilidade e maiores notas, mas no prosseguimento dos estudos, nas séries posteriores, esse gosto ou desempenho diminuem bastante para a maioria. O que acontece? São as metodologias, os professores ou a própria Matemática que fica mais difícil?

     Essa questão é tema central de vários estudos em Educação Matemática, dentre os pontos já comprovados destaco dois:

1. O excesso de conteúdo trabalhado sem profundidade;

2. A falta de relação entre a Matemática ensinada na escola e o cotidiano do aluno entre outros.

Acredito que o problema esteja na metodologia e no currículo escolar.

06- PB- Mudando um pouco de foco, Arnaldo, como você se sente ao fazer parte dos movimentos culturais de nossa cidade? Observamos que nos últimos anos você esteve presente em muitas manifestações populares chegando a integrar-se no meio do povão, e essa  atitude é louvável, como explicar essa simplicidade?

     A nossa cidade sempre foi uma fonte rica de pessoas especiais (seja no: bordado, religião, estudo, música, …), mas estava carente de ações populares sem cunho partidário. Hoje eu tenho o privilégio de fazer parte da “Academia Buritiense de Artes, Ciências e Cultura – Arnaldo Escórcio Athayde – ABACC”, Academia está que vem a cada ação conquistando o respeito de todos, e alcançando a sua finalidade: “Promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico de nossa cidade”.

     Também tenho o prazer de fazer parte da “Família do Escravos do Samba” que resgatou a história e alegria do carnaval buritiense. Ir pra rua no meio do povo é algo bem tranquilo, porque na minha infância era comum os amigos brincarem na rua com os outros.

    Acredito que todos devem buscar o crescimento profissional, mas acredito também que as raízes devem ser preservadas sempre.

07- PB- Voltando um pouco para a educação, como desfazer a visão de que a Matemática tornou-se o “bicho papão” no ensino, principalmente quanto à quantidade de reprovações, dificuldade de compreender os cálculos?

     A principal ação para mudar esse conceito (ou preconceito) que as pessoas tem da Matemática é a mudança de postura dos nossos docentes. Muitos de nós, professores, creditamos a culpa do insucesso dos nossos alunos somente para eles. Mas, devemos fazer uma autocrítica sobre a metodologia desenvolvida em nossas aulas. Hoje com a facilidade de acesso à tecnologia, informação, etc… não podemos fazer o mesmo de ontem.

08- PB- O que falta para que Buriti dos Lopes desponte como talento nas Olimpíadas de Matemática nos próximos anos como acontece com Cocal dos Alves?

     Falta uma integração entre todas as partes (gestores, educadores e principalmente a família).

     Hoje infelizmente vejo vários colegas de profissão que não tem iniciativa, não tem coragem de inovar (porque inovar dá trabalho). O sucesso de Cocal dos Alves não é uma ação do poder público, porque se assim fosse outras escolas da rede também teriam o mesmo sucesso, o sucesso educacional de Cocal dos Alves é uma ação dos professores de uma escola (Escola Augustino Brandão).

     Não podemos jogar a responsabilidade somente nos educadores e gestores. Hoje em dia as famílias, de certa forma, não acompanham a vida escolar de suas crianças, simplesmente mandam pra escola e o professor que se vire em ser um pouco de tudo.

      No ano passado o Prof. Amaral fez uma brilhante exposição em nossa cidade. Mostrou qual foi o caminho trilhado por eles. Mostrou que o principal objetivo em Cocal dos Alves não é ganhar medalhas em olimpíadas, o principal objetivo é a mudança educacional e social no município, que teve como consequência o sucesso conhecido por todos.

     Tenho certeza que em nossa cidade temos pessoas qualificadas para fazer melhor do que é feito em Cocal dos Alves, mais tenho certeza também que o sucesso numa jornada tão dura só é possível com a junção de força: Poder público, educadores e família.

09- PB- Morando fora já há algum tempo, você costuma acompanhar o dia a dia de nossa cidade através da internet? Que mudanças lhe chamaram à atenção e mereceriam destaque?

     Hoje a informação chega muito mais rápido em qualquer lugar, e com a facilidade de acesso à internet ficou mais fácil acompanha o dia a dia de Buriti. Sempre mantenho contato com familiares, amigos, uso as redes sociais e principalmente os portais de notícias da nossa cidade. Além disso, sempre que posso vou a nossa cidade.

10- PB- Qual o conselho que daria para os nossos jovens que sonham em um dia fazer um mestrado, doutorado ou até mesmo um pós-doutorado assim como você fez?

“NÃO ESPERE FAÇA”.

     Hoje temos as Universidades na porta de casa, temos cursos de Graduação e Pós em Buriti (via Universidade Aberta do Brasil – UAB), temos todas as oportunidade que precisamos, agora só depende de cada um fazer a diferença. Fácil não é, mas é possível.

     Aos pais recomendo que acompanhe seus filhos e participe da vida escolar deles, principalmente na educação básica, o que podemos deixar de mais importante pra nossos filhos é sem dúvida a EDUCAÇÃO.