Entre o ócio e a lucidez

Publicado por Gildazio em 10 agosto 2016

   

 O ócio é um excelente momento para nos sentirmos mal. Por isso, ter a mente ocupada nos faz melhor como ser humano seja com nós mesmos seja com o próximo. É assim que inicio este texto falando aparentemente do nada, da existência, da busca da compreensão das coisas úteis ou mesmo inúteis para se viver ou até mesmo para passar o tempo.

   Admiro a paciência que algumas pessoas têm de ficarem horas e horas diante de celulares e computadores, esperando uma foto, um vídeo, uma curtida ou um comentário de qualquer espécie que seja, subindo e descendo o dedo num movimento ritmado e constante. Fico, às vezes, até de olho na página de algumas para ver se sou eu que não sei ver o que a internet boa tem para mostrar das redes sociais. Percebo que não é muito diferente do que vejo, a não ser pela quantidade de amigos e de grupos afins. Preciso urgente de uma terapia da informação, uma dinâmica para me acostumar com esse mundo novo.

   Mas também é no momento de ócio que a vida acontece. Talvez pouco importe se estamos aparentemente ligados ao nosso mundo concreto ou se estamos apenas caçando Pokémon, a vida está passando. Os 32 longos estios que me carregam o corpo começam a palpitar algumas reflexões que de tão rápidas causam confusão e bagunça ao se ordenarem em minha mente estranha. Reflito sobre o que quero para mim, sobre trabalho, cansaço, dinheiro, sobre a vida, a família, a exaustão.

Uma coisa é certa nesta vida: não podemos resolver todos os problemas do mundo, aliás, o mundo não tem problemas, quem têm são as pessoas e muitos. Para ver como esses problemas mexem com todos hoje, tenho que conectar-me também às redes sociais, elas servem de contraponta entre o devaneio e o racionalismo. Após uma busca nominal, torno-me um pouco reacionário. Que bom que as pessoas são livres neste mundo ocidental, mas com exceções a parte, elas podem se expressar como querem, e devem ao menos ser ouvidas. Numa espécie de relógio de ponto que martela na hora devida e oportuna e produz um relatório.

   O ócio é inimigo desse relógio reacionário, multifacetado, ao mesmo tempo incoerente. Pois não há diferença entre quem aperta o ponto e alimenta o sistema, já que se criou uma necessidade natural de ser ventilador e vento. E assim gira o mundo, giram as coisas e o que elas desejam. A distância proferida entre o céu e a Terra se encurta e se alonga todos os dias, tudo depende do ponto de onde observamos. Se queremos ser ouvidos nos comunicamos por um canal, se queremos ouvir, selecionamos os interlocutores do acaso. Tudo isso parece uma lógica invertida? Ou mesmo tudo sem uma lógica?

     Sim, na busca do ilogismo tudo pode, o certo parecer errado, o completo o incompleto, o bom o ruim e dessa forma vai e vai até que se chega a um momento que paramos e nos perguntamos, e agora? Resultado?  Revolvemos ao ócio, ao ponteiro inicial, à mensagem inicial e cada vez mais perdemos o crédito com nós mesmos, se é que ainda temos.

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