Sou “Paraíba, Sim Senhor!”
Publicado por Gildazio em 23 julho 2019
Por esses dias, nosso (eu disse NOSSO!) Presidente da República usou uma expressão extremamente preconceituosa e hostil ao se referir ao povo nordestino, em conversa com um ministro seu, e, ainda, disse ser o Governador do Estado do Maranhão, o pior dos governadores “daqueles paraíbas”.
Nem todo mundo compreendeu o alcance dessa forma pejorativa de referir aos nordestinos. Essa é uma expressão muito comum, sobretudo no Rio de Janeiro, em que os cariocas usam desse tom jocoso para com nossa gente. E assim é no Sul e Sudeste brasileiros. Eu mesma presenciei esse tipo de preconceito para conosco. Certa vez, em um curso que fiz fora, destaquei-me pelo currículo e por algumas participações em sala de aula. Até então, não nos tínhamos apresentado, e, quando souberam de onde eu era, ouvi frases do tipo: “Mas você é do Piauí?!”… numa admiração tal que eu me assustei, no início, não compreendendo o porquê daquela reação. Nas conversas subsequentes foi que descobri como nos veem e o que pensam de nós. Têm-nos como sub-raça, menos inteligentes, sem estudo, feios, “mortos de fome”…
Mal sabem eles que aqui temos a melhor escola do Brasil, atestada pelo Enem já algumas vezes;… e que “um paraíba inscrito em um concurso é uma vaga a menos para os sulistas!”
Sem falar nas infindáveis contribuições do nordeste para o Brasil!
A historia do Brasil teria sido a mesma sem a Balaiada (Maranhão – 1838/1841), ou a Tenentada (Sergipe) e sem a consolidação da Independência conquistada com a Batalha do Jenipapo, logo aqui, na nossa Campo Maior/PI?!
E quando João Pessoa não aceitou o sucessor indicado pelo presidente do Brasil à época (1930), Washington Luís, dizendo “NEGO”, que, inclusive, está estampada na bandeira paraibana, ostentando a coragem desse povo aguerrido, inspirador e digno de orgulho para todos nós!?
Já imaginaram como seria o Brasil sem Jorge Amado, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Alceu Valença, Graciliano Ramos, Ariano Suassuna… e sem os piauienses Torquato Neto, Assis Brasil, O. G. Rego de Carvalho e Da Costa e Silva, Evandro Lins e Silva… só para exemplificar?!
Problema é que, ainda que saibam de nossos valores intelectuais, culturais, econômicos e sobretudo históricos, não nos reconhecem como brasileiros de igual para igual.
Como eu disse no início do texto, Bolsonaro é NOSSO presidente. Representa a NAÇÃO brasileira que é heterogênea desde o seu nascedouro! E as palavras de um presidente da República ecoam com tamanha magnitude que ferem de morte a lenta evolução que havíamos conquistado. E isso não se pode aceitar!
A música “Paraíba Masculina”, composta por Humberto Teixeira e imortalizada na voz de Luiz Gonzaga, fala da coragem desse pequeno estado, feminino, cuja atuação de Joao Pessoa, que fora assassinado por se revoltar contra o voto de cabresto, fortaleceu a revolução de 1930, em que conquistamos o voto secreto, as ferias, FGTS e vários direitos trabalhistas, transformando todo o país.
Pois sou nordestina, piauiense, filha de vaqueiro… criada no leite mugido, cuscuz e feijão plantado por nós mesmos… mais paraíba que eu não há! E tenho é orgulho de ser daqui, do lugar onde a maioria deseja ao menos passar umas ferias!!
Sou “Paraíba, sim Senhor!”
Imagem: Internet
Parabenizo a nobre articulista.
Qualquer leitor, com certeza, entende sua mensagem, menos, claro, com a hipocrisia de sempre, o “nosso presidente”.