“Político é tudo ladrão!”
Publicado por Gildazio em 12 agosto 2019
Fiquei por uns instantes, numa parada de ônibus, em Teresina, apenas observando… e ouvindo.
Duas senhoras tagarelavam sobre a doença de um parente e pareciam revoltadas com a dificuldade para marcar consultas e do atendimento que tiveram em alguns hospitais públicos. “Esses políticos só querem roubar, por isso que não tem médico nem remédio!”- disse uma delas. Mais adiante, jovens estudantes reproduziam a polarização nacional dos discursos de direita e esquerda, ao falarem da visita do Presidente da República que ocorrerá nesta semana, em Parnaíba. Um deles, o mais alto, planejava comprar uma passagem de ônibus para ver, ao menos de longe, “o mito”! O mais franzino, ria chamando-o de ‘bolsominio'” e lembrando-lhe das últimas pérolas que Bolsonaro presenteara a imprensa nacional. Quase foram às vias de fato! Ao meu lado, sentou-se um senhor que me reconheceu, embora eu estivesse com boné e óculos escuros, que sempre uso nas minhas pesquisas de campo. E ele foi logo dizendo: Major Elizete… votei na senhora!! Ah… aí não teve jeito. Abri o sorriso costumeiro e agradeci, como sempre o faço, pela honra incomensurável de ter a confiança de alguém! Logo veio o ônibus dele e ele se foi!
Decidi ir a outra parada, porque meu “disfarce” restara prejudicado. Estava lotada! De pé, fiquei ao lado de um casal que reclamava dos políticos locais. “São tudo ladrão!” – disse o rapaz. A moça concordou e ainda acrescentou: “Você viu que uma vereadora de Teresina queria instituir o Dia do Oceano?! Aqui nem praia temos!!” – e riram os dois, contagiando os mais próximos. O cidadão que estava mais próximo deles decidiu contribuir: “Rum, temos vereadores que eu nem conheço. Essa aí mesmo só soube do nome por causa dessa asneira que tentou fazer!”
Um homem de meia-idade que ouvia a conversa também se manifestou: “Oxe, votei num vereador que se dizia representante do meu bairro; quando eleito, a primeira coisa que fez foi se mudar para zona leste!!” – e a risada foi geral!
Até que uma mulher morena, de mais ou menos 40 anos, que, assim como eu, apenas observava e ouvia os inúmeros ataques aos vereadores e ao prefeito da capital, resolveu intervir. “Certo, aqui, nesta hora, todos criticam e falam mal dos políticos. Mas, ano que vem, nas eleições, quero ver como vão se comportar! Quero ver se votarão após analisar bem o candidato, o que já fez pela população ou sua capacidade de bem nos representar… ou se venderão o voto, ou trocarão a oportunidade de mudar tudo por uma promessa de emprego que dificilmente será cumprida. Problema é que todo mundo sabe o que seria correto, mas, na hora H, não o fazem!” – e o silencio pairou por alguns segundos!
O que percebi naquelas horas de observação é que as pessoas estão falando de política, discutindo opções, o que é um grande passo no exercício da cidadania plena. Fiquei feliz em saber que, mesmo de forma ainda meio incipiente, o teresinense já reconhece o politico como uma ferramenta para o desenvolvimento de políticas publicas capazes de satisfazerem as necessidades do povo.
Gosto de pensar que este é, apenas, o começo da grande mudança!
Imagem: Internet