Em visita ao Acervo Público do Estado do Piauí tivemos contato com aquele que podemos considerar o mais importante achado dos últimos anos, o documento do ano de 1877 é uma prova cabal da existência de mão de obra escrava em solo buritiense. O documento relaciona 34 escravas que pertenciam às classes abastadas de nosso povoado, essa é uma relação nominal e nela aparecem as mulheres escravas batizadas, sua cor, filiação e o nome de seus senhores.
O achado por si só representa uma valiosa descoberta, o acesso a esse material vem elucidar uma grande lacuna existente em nossa história, e diante desse corte temporal tínhamos uma inquietude, nosso desejo de saber sempre esbarrou na falta desse conteúdo em nossa literatura local, nela não se faz menção sobre a existência de nossos irmãos escravos, seu modo de vida, suas histórias mitos e lendas ficaram fadadas ao esquecimento de uma época marcada pela violência e pelo trabalho forçado. A lista mostrada deixa de fora os homens, crianças e jovens também escravizados, a quantidade apresentada revela o poder econômico das famílias tradicionais, que usavam o suor dos negros para enriquecer ainda mais.
Quantos deles aqui viveram? Onde estariam enterrados? Quem seriam seus descendentes? O que nos fez esquecê-los? Não seria chegada a hora de repararmos nossa dívida?  Qual seria a mais justa homenagem? É amigo leitor, numa sociedade verdadeiramente consciente e que visa um desenvolvimento pleno no campo cultural e intelectual, somente o terá quando corrigir as marcas e sequelas do passado.  Não podemos usar o subterfúgio do esquecimento para esconder a vergonhosa ação contra os escravos praticada.

Buriti dos Lopes, 16 de dezembro de 2011.

Texto: Professor Gildazio e Poeta Neném Calixto