Os paletós de colorações variadas fizeram uma conferência em vídeo. Não podendo ausentar-se da sala de trabalho e da cadeira assumida, teclavam uns para os outros.
“Estamos unidos na empreitada, mas não poderemos encontrar-nos, talvez nunca! Nossa ausência seria notada. A “chefia” poderia não se sentir bem”.
“Mas como vai você, azulado?” “Estou bem, um tanto cansado desse ar condicionado, mas vou indo, caro amigo xadrez”. O riscadinho entrou no assunto: “estou descorado do sol que bate na vidraça e me alcança!” “Aquieta-te”, aconselhou o desbotado.
Outro gritou: “alguém viu meu proprietário? Estou estressado de tanto ficar nesta sala de conversas fiadas e nenhuma produtividade!” “Soube”, respondeu um deles, “de notícias de que ele está no exterior”. “Pode ser, mas será que o patrão sabe disso?”
“Acalmem-se! Meu dono voltou e quis vestir-me, mas não conseguiu; é que ele engordou uns doze quilos nas praias do litoral. Quase me rasgou; fazia uns seis meses que ele não aparecia por aqui”.
Nisso, todos caíram na gargalhada. “Espertos nossos proprietários! Viajando por toda parte, desfrutando de mordomias inesquecíveis, e nós, aprisionados, fazendo de conta que eles foram somente ao cafezinho e que já estarão de volta!”
“Mas será que eles estão recebendo salários?” “Claro seu bobão”, respondeu o mais precipitado. “Mas ninguém toma providências das ausências deles?” Perguntou o sóbrio.
“O interesse deles é nos gordos salários; se for necessário eles deixam a mão do chefe molhada. O silêncio é o segredo. Os impostos cobrem tudo. Outras pessoas poderiam estar empregadas e produzindo melhor e mais, mas fazer o quê?”
“Meus amigos, chega de teclar por hoje; parece que ouço passos”.
Foi o diretor que adentrou e leu parte das conversas gravadas na tela do monitor. Horrorizado, perguntou: “quem foi que escreveu essas calúnias nefastas aqui? Quem ousou se meter em assuntos que são segredos de estado?”
Abriu-se uma sindicância. Os paletós foram citados. Declarados culpados foram incinerados, e seus donos tiveram de amargar o prejuízo em silêncio e comprar ternos novos e mais silenciosos, e que não soubessem nada de computação.
A vida prossegue com famintos, doentes, desempregados e ladrões!
Excelente texto. É fato!
qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência… Muito bem Cristino!