A ansiedade nunca nos fortalece para o amanhã; ela apenas nos.
Enfraquece para o dia de hoje.
J. Blanchard
Li, provavelmente na internet, um diálogo interessante e instrutivo. A conversa era entre um ricaço que desfrutava férias num recanto paradisíaco e um pescador nativo.
Após ter velejado por algum tempo, o pescador desembarca na praia. Sua pele bronzeada tem a cor do sol. Enquanto salta agilmente do barco, ele assovia uma canção própria dos velhos lobos do mar. A cabeça protegida por um chapéu de palha, cuja aba lhe assombreia o rosto, torna a cor de sua pele ainda mais escura. Os braços, torneados pela força das águas, puxam a pequena embarcação para terra seca, amarrando-a em uma árvore que dorme preguiçosa, esparramando-se em galhos também preguiçosos. Depois de esticar a rede, o pescador caminha lentamente carregando meia dúzia de peixes.
O ricaço, de pele avermelhada e andar grã-fino, veste uma camisa estampada. Tanto a pele quanto a camisa deixam clara sua condição de turista. Ele observa tudo atentamente. Analisa a lida incessante do pescador e ao contar com os olhos a pequena quantidade de peixes conduzida por suas calejadas mãos, fica curioso. De imediato, ele procura conversa saudando o pescador, que responde com um sorriso, exibindo os dentes ainda brancos e perfeitos. Como o pescador pára numa bica d’água próxima, o ricaço pergunta:
— A pesca estava fraca hoje?
— Não — reponde o homem.
Sem entender, o ricaço tenta mais uma vez;
— Como não, você só pescou seis peixes.
— Pesquei o necessário, seis são suficientes para alimentar minha família.
Despedindo-se, o pescador segue sua jornada até uma pequena casa no lugar mais alto da praia. A casinha branca rodeada por palmeiras e cercada por um pequeno mas bem cuidado jardim transmite paz e tranqüilidade. Um menino vem correndo alegremente seguido por outro menor; com dedicação eles tiram os peixes da mão do pai, carregando-os com orgulho. Eles são recebidos por um cão vira-lata que abana o rabo feliz, fazendo piruetas em volta do dono. Sem pressa, eles caminham aparentando ter todo o tempo do mundo. Um andar satisfeito, em total ausência de preocupação ou sinal de que precisem ir a algum lugar específico.
No dia seguinte a mesma cena da pesca se repete. Agora quem toma a iniciativa de cumprimentar o turista é o pescador:
— Bom dia!
— Bom dia — responde o ricaço, ainda curioso e intrigado.
— Só pescou seis peixes outra vez?
— É.
— Por que você não pesca mais?
— Pra quê?
— Para vender e ganhar dinheiro.
— Pra quê?
— Para comprar um barco maior.
— Pra quê?
— Para pescar muitos peixes e comercializá-los.
— Pra quê?
— Para ter muitos empregados.
— Pra quê?
— Para ganhar mais dinheiro, dar mais conforto a sua família e ter um futuro garantido e feliz.
— Pra quê?
— Para poder se aposentar, descansar, parar de trabalhar, viver sem preocupações e desfrutar a vida.
Olhando o turista com seus olhos negros e penetrantes, o pescador responde pela primeira vez com mais de duas palavras.
— Pra que vou ter toda essa trabalheira, moço, apenas pra conseguir tudo aquilo que eu já tenho agora?
Quantos de nós lutam a vida toda para obter felicidade, esquecendo que a possuíamos quando não tínhamos nada daquilo pelo qual tanto batalhamos. Já fomos tão felizes com pequenas coisas. A satisfação existia na presença do ser amado, no pneu a rolar ladeira abaixo, na traquinagem de uma criança, na visita de um amigo. Simples prazeres que quase se apagaram da memória. Estamos ocupados demais para parar; não temos mais tempo para um carinho.
A ansiedade é um espasmo de emoções, um catalisador de sentimentos e pensamentos capaz de criar uma condição de depressão dentro do ser humano. Ela faz a mente trabalhar ininterruptamente sobre uma idéia ou um assunto, sem deixá-la em paz, fazendo-a cativa. Quem controla a ansiedade libera de dentro de si uma positiva emoção de alegria e serenidade.
Essa é a razão pela qual não há sucesso em ensinar a parar de se preocupar. As pessoas não conseguem parar. Seus pensamentos estão emocionalmente prisioneiros da ansiedade. Eles estão acorrentados por uma obsessiva e possessiva idéia. A única maneira de quebrar essa corrente é semear outra idéia capaz de dominar a mente e tomar o lugar daquele pensamento que induz à ansiedade. Um pensamento redentor faz com que a mente repudie a idéia ruim e se agarre a nova idéia libertadora.
Existem pessoas tão acostumadas a conviver com a ansiedade, que quando não têm com que se preocupar preocupam-se porque não estão preocupadas. Carregam fardos desnecessários. Concentram-se na mesma coisa durante todo o tempo. A ansiedade não deixa espaço para a mente pensar criativamente em soluções. Como usar uma máquina sempre ocupada e sobrecarregada?
Os momentos de preocupação enfraquecem a alma para a luta de cada dia
Pô…. esta foi uma da melhores reflexões!!!
Excelente. (Muito Obrigado)